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26 May 2013 08:30 PM PDT
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Uma multidão estimada em 30 mil pessoas pela polícia (que habitualmente
minimaliza as manifestações católicas) lotou no Domingo de Páscoa a praça
da catedral de Notre Dame e as ruas vizinhas, para ouvir a primeira reboada
oficial dos novos sinos.
Nessa mesma data, 850 anos atrás, na presença do Papa Alexandre III, o
bispo D. Maurício de Sully colocava a primeira pedra para a construção
daquela grandiosa catedral dedicada a Nossa Senhora.
Os sinos originais foram destruídos barbaramente pela Revolução Francesa em
1792, com exceção de um, batizado com o nome “Emanuel”.
Por ocasião de sua bênção ritual os sinos recebem nomes que são gravados no
seu bronze. O “Emanuel” foi doado há mais de 300 anos pelo rei Luis XIV e
pesa 13 toneladas.
No século XIX, Napoleão III mandou preencher o vazio com sinos de menor
qualidade e carentes de afinação. Os especialistas, sempre muito exigentes,
diziam que se tratava do pior conjunto de sinos da Europa.
“Espírito pós-conciliar”
opunha-se aos sinos
Embora foram recuperados o desenho dos sinos antigos e das partituras
originais dos carrilhões, quem os faria? Haveria ainda mestres que
continuassem o antigo ofício nascido na Idade Média?
A maior dificuldade à existência de sinos provém da oposição de um falso
miserabilismo e pseudo espírito de pobreza, em decorrência do qual as
igrejas deixaram de tocar os sinos, símbolos de sua riqueza, de seu domínio
e poder religioso.
Em alguns casos eles foram substituídos por gravações eletrônicas
dessacralizantes e artificiais.
Neste terceiro milênio, após décadas de incansável pregação progressista
contra a venerável imagem da Igreja hierárquica, rica e sacral, haveria
alguém que quisesse financiar os novos sinos da catedral de Notre Dame?
Apesar de em princípio nenhuma objeção progressista ter consistência
para o católico, décadas de propaganda do chamado “espírito pós-conciliar”
espalharam uma atmosfera de descrença e respeito humano em relação a
hábitos sacralizantes e louváveis como o toque de sinos.
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Sinos dispostos
na catedral para a bênção
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Entusiasmo dos fiéis
Em Villedieu-les-Poèles, cidadezinha da Normandia, uma fundição tradicional
— a Cornille Havard — ainda utilizava os velhos métodos de produção dos
sinos. São técnicas ancestrais que remontam à Idade Média e que podiam dar
vida a réplicas fiéis.
Quando se soube do projeto, um entusiasmo que raiava à loucura empolgou
mestres e operários, segundo Paul Bergamo, presidente da fundição.
A emoção, a alegria e a veneração tomaram conta de Villedieu-les-Poèles
quando um dos sinos, já sobre a carreta, foi tocado em homenagem aos
fundidores. O caminhão partiu em meio aos aplausos dos populares.
Por sua vez, a Fundição Real Eijsbouts, da Holanda, encarregou-se de
fazer o bourdon (sino de tamanho excepcional), batizado “Marie”,
cujos custos foram cobertos com doações de particulares.
A chegada dos novos sinos a Paris, no dia 31 de janeiro de 2013, foi uma
apoteose. As autoridades montaram uma arquibancada para o povo que queria
vê-los.
Na realidade, ao longo de uma viagem de mais de 300 km, o transporte dos
sinos deu origem a uma série de acontecimentos: na autoestrada, as pessoas
aguardavam sua passagem de cima das pontes.
Em Paris, o serviço de
segurança teve trabalho especial por causa da multidão — aliás, ordeira e
respeitosa — que assistia os braços mecânicos descerem os imensos sinos.
“Emanuel”, o venerável bourdon do rei Luis XIV, o único dos sinos
que escapou da sanha dos revolucionários, recebeu seus futuros “irmãos” de
campanário tocando sozinho.
Eles só foram exibidos a partir da bênção solene, ocorrida no dia 2 de
fevereiro.
Os sinos se fizeram ouvir pela primeira vez em 23 de março, véspera do
Domingo de Ramos, ainda em fase de teste.
O primeiro toque oficial foi o “Grand Solemnel” no Domingo de
Páscoa, diante de uma multidão emocionada e entusiasmada.
— “O som dos sinos simboliza a presença de Deus na cidade — comentou
um parisiense —, porque seu som é como o próprio Deus: é a suma beleza”.
— “Com o som dos sinos é todo o Universo que se põe em movimento”,
acrescentou uma senhora presente na catedral.
Arquibancada
construída para o público
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— Faith Fuller, turista de São
Francisco (EUA), não pôde conter as lágrimas: “Isto representa 850 anos
de história de uma catedral fantástica e eu estou neste momento histórico
ouvindo os sinos pela primeira vez. É emocionante e belíssimo”, narrou
a rádio oficial alemã “Deustche Welle”.
— “A ideia foi recriar um conjunto de sinos tão magnífico quanto aquele
que havia antes da Revolução Francesa”, declarou Paul Bergamo à “Deustche
Welle”.
— “Os sinos são uma das vozes da catedral porque ecoam a glória de Deus”,
acrescentou o reitor-arcipreste da catedral, Mons. Patrick Jacquin.
Segundo Mons. Jacquin, num período de três semanas após a bênção solene, entre
1.000.000 e 1.500.000 pessoas foram visitar, tocar e fazerem-se fotografar
junto aos brilhantes sinos.
Símbolos gravados em
cada sino
Os novos sinos são:
O bourdon “Marie” (6.023 kg; 206,5 cm de diâmetro), consagrado a
Nossa Senhora, a quem está dedicada a catedral. Ele é reprodução de
idêntico bourdon que tocou de 1378 a 1792, ano do infame saque
republicano. Nele estão gravados a “Ave Maria” e um medalhão de Nossa
Senhora com o Menino Jesus rodeado de estrelas; tem friso representando a
Adoração dos Reis Magos e as bodas de Caná, e por fim uma Cruz de Glória
com a inscrição “Via viatores quaerit” (“Eu sou a Via em busca de
viajantes”, referência a Jesus Cristo que é a Via, e que procura as almas
que viajam por esta vida rumo ao destino eterno).
O sino “Gabriel” (4.162 kg e 182,8 cm de diâmetro) é dedicado ao
arcanjo São Gabriel que anunciou a Nossa Senhora a encarnação do Verbo.
Bourdon Maria
é o maior do novo conjunto
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Neste sino está inscrita a
primeira frase do Angelus “O anjo do Senhor anunciou a Maria” —, além de 40
faixas que simbolizam os 40 dias que Jesus passou no deserto e os 40 anos
de travessia dos judeus pelo deserto do Sinai; na coroa do sino há flores
de lis e, rodeados de estrelas, Nossa Senhora e o Menino Jesus. No corpo do
sino há também uma Cruz de Glória com a inscrição “Via viatores quaerit” e
um perfil da catedral no coração de Paris.
O sino “Ana Genoveva” (3.477 kg; 172,5 cm de diâmetro) é dedicado a
Santa Ana, mãe de Nossa Senhora, e a Santa Genoveva, padroeira e protetora
de Paris. Nele está inscrita a segunda frase do Angelus “E ela concebeu do
Espírito Santo”. Três faixas simbolizam a Santíssima Trindade; labaredas de
fogo evocam a tenacidade de Santa Genoveva; no demais, repete o sino
“Gabriel”.
O sino “Dionísio” (2.502 kg; 153,6 cm de diâmetro) lembra a São
Dionísio, primeiro bispo de Paris. Enviado pelo Papa, o bispo sofreu o
martírio. Neste sino está inscrita a terceira jaculatória do Angelus: “Eis
a escrava do Senhor”. Sete faixas simbolizam os sete dons do Espírito Santo
e os sete sacramentos da Igreja. Há também desenhos simbolizando o
martírio, Cruz de Glória, inscrições e desenhos idênticos aos anteriores.
O sino “Marcelo” (1.925 kg; 139,3 cm de diâmetro), em memória de São
Marcelo, nono bispo de Paris, muito venerado pelos parisienses por sua
caridade para com os pobres e os doentes. Neste sino está inscrita a quarta
frase do Angelus: “Faça-se em mim segundo tua palavra”. Cinco faixas
simbolizam as três pessoas da Santíssima Trindade e as duas naturezas
formando um só Deus em Jesus Cristo encarnado. No demais, acompanha os
modelos anteriores.
O sino “Estêvão” (1.494 kg; 126,7 cm de diâmetro) relembra a
catedral de Paris que precedeu a atual e que era dedicada a Santo Estêvão.
Neste sino está gravada a quinta jaculatória do Angelus: “E o Verbo se fez
carne”. Uma faixa em honra dessa jaculatória e motivos diversos evocam o
martírio de Santo Estêvão. Cruz de Glória, frases e imagem de Nossa
Senhora, Menino Jesus e perfil de Notre Dame como nos anteriores.
Sino
"Ana-Genoveva" dedicado às duas santas
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O sino “Bento-José” (1.309
kg; 120,7 cm de diâmetro) em alusão ao então Papa Bento XVI e a São José.
Inscrição com a sexta frase do Angelus: “E habitou entre nós”. Doze faixas
simbolizam os doze Apóstolos sob as chaves de São Pedro. Cruz de Glória e
outros detalhes como nos anteriores.
O sino “Maurício” (1.011 kg; 109,7 cm de diâmetro) em memória de
Maurício de Sully, 72º bispo de Paris, que colocou a primeira pedra da
catedral de Notre Dame em 1163. Nesse sino está inscrita a sétima frase do
Angelus: “Rogai por nós, Santa Mãe de Deus”; oito faixas simbolizam a
plenitude (7+1); há ainda elementos arquitetônicos do plano da catedral,
evocação de seus construtores, Cruz de Glória etc., como nos anteriores.
O sino “Jean-Marie” (782 kg; 99,7 cm de diâmetro), o menor deles,
recebeu esse nome em alusão ao cardeal Jean-Marie Lustiger. Nele está
inscrita a oitava e última frase do Angelus: “A fim de que sejamos dignos
das promessas de Cristo”; nove faixas simbolizam as nove hierarquias
angélicas; no corpo do sino, as iniciais dos quatro evangelistas, cada um
com seu símbolo. Cruz de Glória, inscrição e imagens como nos anteriores.
Além dos nove sinos mencionados acima e o "Emmanuel", há outros três na flecha
da catedral, totalizando 13.
Toques e melodias
Toda a família de novos sinos restaurados
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Os toques e as melodias dos
sinos de Notre-Dame de Paris se subdividem em quatro grandes categorias:
— o carrilhão das horas das
cerimônias litúrgicas;
— o carrilhão do Ângelus três vezes por dia: 6h00, 12h00 e 18h00, segundo
costume do rei Luís XI, que se generalizou na Cristandade;
— o carrilhão das horas (toque breve a cada quarto de hora; melodia curta a
cada hora, e mais de 50 toques e melodias diversas do tesouro musical de
Notre-Dame que variam ao longo do ano litúrgico);
— o carrilhão das grandes ocasiões: acontecimentos ligados ao Papado ou de
outra índole, de importância nacional e internacional, datas históricas,
grandes desgraças na humanidade etc.
Os sinos continuarão a fazer-se ouvir com a mesma frequência respeitada até
agora. A grande variante será dada pela riqueza do novo conjunto, que
permitirá uma diversidade maior de melodias e toques.
O “Emanuel” fica reservado para as grandes solenidades
como Natal, Epifania, Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Assunção, Todos os
Santos etc.
O entusiasmo pela restauração dos sinos da grande catedral de Paris não se
cingiu a um evento meramente religioso; foi uma amostra a mais das
profundas inversões de tendências que estão ocorrendo na opinião pública da
França hodierna.
Simbolismo e
importância do sino para a Igreja
Eis uma substanciosa explicação das
bênçãos do toque do sino feita por Mons. Jean-Joseph Gaume (1802-1879),
célebre por sua ciência teológica.
Apresentação dos novos sinos de Notre-Dame de Paris
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“Como todas as coisas grandes e
belas, é à Igreja que devemos o sino.
O sino nasceu católico, por isso a Igreja o ama como a mãe ama seu filho.
Ela benze o metal de que é feito. Logo que ele veio ao mundo, a Igreja o
batizou e fez dele um ente sagrado.
Com razão, porque o sino é destinado a cantar tudo o que há de santo e de
santificante na Terra e no Céu. Pelas orações e cerimônias que o
acompanham, o batismo vai dizer-lhe a sua vocação.
A Igreja sempre considerou com muito respeito o sino, o que se constata com
novo esplendor nas preces e nas cerimônias de seu batismo.
Reunidos os fiéis em torno do sino suspenso a alguns metros acima do solo,
chega majestosamente o bispo em hábitos pontificais, acompanhado do clero e
seguido do padrinho e da madrinha do sino.
Em nome de Deus, de quem é ministro, o bispo invoca sobre essa maravilhosa
criatura a virtude do Espírito Santo, tornando-a fecunda no primeiro dia de
sua criação.
Certo de ser atendido, o bispo asperge o sino com água benta,
conferindo-lhe o poder e o dever de afastar de todos os lugares onde seu
som repercutir, as potências inimigas do homem e de seus bens: os demônios,
os redemoinhos, o raio, o granizo, os animais maléficos, as tempestades e
todos os espíritos de destruição.
Vejamos sua missão positiva.
A sua voz proclamará os grandes mistérios do cristianismo, aumentará a
devoção dos cristãos para cantarem novos cânticos na assembleia dos santos,
e convidará os anjos a tomarem parte nos seus concertos.
O sino fará tudo isto, porque esta missão lhe é confiada em nome d’Aquele
que possui todo o poder no Céu e na Terra.
Cada badalada faz retinir ao longe os dois mistérios da morte e da vida —
alfa e ômega — necessários para orientar a vida do homem e consolar suas
esperanças.
Não admira, pois, que o bispo,
dirigindo-se ao próprio sino, o dedique a um santo ou a uma santa do
Paraíso dizendo-lhe, com uma espécie de respeitosa ternura: “Em honra de
São N., a paz doravante esteja contigo, caro sino”.
Como o sino deve ter um nome, cumpre que tenha também um padrinho e uma
madrinha. O nome do sino é gravado abaixo da cruz em relevo, que o marca
com o selo de Nosso Senhor e o consagra ao seu alto culto.
Daí vem um fato pouco notado: o amor dos verdadeiros filhos da Igreja ao
sino e o ódio que lhe votam os inimigos de Deus.
Uma das mais doces alegrias de nossos pais, ao se libertarem da Revolução
Francesa, foi ouvir os sinos, emudecidos durante muitos anos.
Esse incontestável poder do sino contra os demônios do ar justifica as
virtudes de que ele goza: dissipar os ventos e as nuvens, afugentar diante
de si o granizo e o raio, conjurar as tempestades e os elementos
desencadeados, pois que todas essas perniciosas influências da atmosfera
provêm muito menos de coisas naturais do que da maldade desses espíritos
maléficos.
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Apresentação
dos novos sinos de Notre-Dame de Paris
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Nossos pais, na hora do perigo,
faziam ouvir pelo Pai Celeste o som dos sinos, seu primeiro grito de
alarme. O Senhor não permanecia muito tempo insensível à voz de seu povo.
A corda que serve para tocar o sino, que sobe e desce sem cessar, indica o
trabalho do pregador, e é também uma imagem da nossa vida”
(Mons.
Gaume, L’Angelus au dix-neuvième siècle, Editions Saint-Remi, 2005).
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